Bem-vindos à 2ª Quarentena. Como se fosse a 2ª temporada do Coronavírus. Isto começa a ficar mais pesado.

Temos sempre dificuldade em fazer um caminho, independentemente da dureza dele… se não soubermos para onde vamos ou mesmo quanto tempo demoramos…

Quem está preso… sabe que vai estar x tempo preso… pelo menos sabe e isso dá alento e relaxa a mente… agora, não saber para onde vamos nem quanto tempo vamos demorar… É complicado!

Nestas fases, resta-nos confiar na liderança e esperar que saibam responder aos desafios que nos esperam, mas estamos a ficar cansados!

As nossas crianças… já estão a dizer que adoram a escola.

De facto, só damos valor ao que não temos! Quando temos… é normal. É como a Felicidade. Só nos apercebemos que estamos felizes quando deixamos de estar…

Quem tem saúde não valoriza… quem tem amigos não valoriza… quem tem emprego não valoriza… quem tem família não valoriza.

E porquê? Porque estamos habituados a não valorizar o normal! O normal é o normal! Os mais felizes são aqueles que o sabem que são! Olhem para mim… até escrevi um livro a dizer que sou feliz! Para sempre!

Eu dou graças pelo que tenho… e tento apreciar todos os dias, o que me faz bem e tento vivê-lo intensamente.

Viver o agora! Viver a minha saúde! Viver a minha família! Viver os meus amigos… AGORA.

Há uns meses fui ao hospital por causa de uma dor no pescoço e uma dormência na mão, acordei assim.

Cheguei ao hospital, a enfermeira fez a triagem e acompanhou-me logo ao médico de serviço… que serviço… era um hospital privado… que luxo… nem tive de esperar…

O médico fez-me umas perguntas, fiz uns exercícios… uns movimentos… toque ali e toque acolá… e o médico perguntou-me se eu tinha comido recentemente.

– “Sim, almocei há 1 hora”.

– “Ah! Então temos que esperar 2 horas que eu quero fazer uma TAC. Então deve esperar até às 16h. Pode Ser?”

– “Claro”, disse.

– “Então como estou aqui com a família, vou ali ao centro comercial fazer tempo e volto às 16h!”

– “Nem pensar”, disse o médico. “Não pode sair dessa cadeira, o que você tem é muito grave, pode ser um tumor cerebral. E pensando melhor… vamos tirar sangue para fazer umas análises, porque se tiver de ser operado de urgência… já ficamos com tudo que precisamos.”

A minha mulher estava comigo… ficou em pânico… e eu naquele momento bloqueei… 10 segundos!

“Ah? Tumor cerebral? Será que posso mexer a cabeça? Isto vai rebentar? Ah?”

De repente… senti uma calma imensa no meu corpo e na minha mente… a minha mulher disfarçava o pânico como podia… é que a herança é pequena… ainda…

Mas de facto… senti uma paz porque pensei:

“Já fiz tudo o que queria ter feito até aqui!”;

“Os meus filhos sabem todos os dias que eu os amo… estou sempre a dizer-lhes isso.”;

“Tudo o que lhes fiz de mal… pedi-lhes desculpa.”;

“O pai deixará umas excelentes memórias… as viagens que fizemos, os vídeos que gravámos, as fotos tiradas, as aprendizagens e os valores que acredito que passei… ”

“A minha mulher sabe que a amo… é jovem… tem uma vida pela frente… tenho um seguro de vida de 100.000 Euros… e a casa fica paga…”

“A minha Clínica… manterá por certo a sua atividade, porque temos 50 pessoas brutais que continuarão toda a saga que até aqui travámos e farão bem sem mim! “

“Acredito que deixarei boas memórias, na minha família, nos meus colaboradores e nas pessoas que de alguma forma cruzaram comigo…”

“Não fiz tudo certo… é verdade…, mas pedi desculpas… e perdoei a todos os que me fizeram mal…”

“Fiz na vida tudo o que tinha a fazer… já escrevi um livro… plantei várias árvores… criei um modelo psicoterapêutico brutal. Ainda não criei o Curso de Formação, mas como gravei em vídeo os 9 cursos de formação interna… agora é só as minhas colegas verem as gravações e fazerem um curso à semelhança daquele…”

Ah? What? Como? Não pode ser? Opá… Não! Não pode ser ainda!

Ainda não publiquei o Manual da Psicoterapia HBM! Caramba… pensava que estava tudo bem, mas não está! Ainda não posso morrer e isto não é uma sensação agradável, termos a noção que temos de fazer algo muito importante que não está feito…

É que posso morrer a qualquer momento e não me posso dar ao luxo de não acabar o Manual da Psicoterapia HBM. As minhas fabulosas colegas, sabem tudo sobre a Psicoterapia. Têm resultados clínicos até melhores que os meus.

Mas… aquele Manual, vai conter o meu pensamento… é importante as pessoas no futuro pegarem no meu pensamento, para desenvolverem a partir daí…

Caramba… se morrer vai ser uma chatice!

Naquele dia entrei em desespero com a notícia do tumor cerebral… potencialmente tão grave que nem me podia levantar de uma cadeira. Em desespero porque… não tinha acabado algo que já tinha de estar feito!

Apesar disto, e escrito assim, ter alguma piada… foi absolutamente verdade!

Quando disse à minha mulher este meu pensamento…ela ficou 3dias zangada comigo… só me falou esses três dias… porque eu estava às portas da morte!

“Então estavas em paz se morresses… e o teu único problema era o Manual?”

Eu sei que pode ser difícil compreender…

Mas eu vivo a minha vida no Agora! Quero fazer hoje, tudo o que posso fazer com os recursos que tenho!

Já fiz todas as viagens que pude fazer com os meus filhos…não tive tempo nem dinheiro para mais… já lhes ensinei tudo o que pude ensinar… com o tempo e a sabedoria que tenho!

Fiz e disse à minha mulher tudo o que sei para a fazer feliz… pode ser pouco… mas é tudo o que sei e que a minha vontade de apreender me proporcionou…

Fiz na minha vida profissional tudo o que em cada momento consegui realizar… pode ser pouco, mas foi tudo o que pude com os recursos que tinha disponíveis…

Por isso, com a exceção da história do Manual… que é verdadeira… posso morrer. Estou em paz com essa ideia. Apesar de não desejar a morte… apesar de querer viver todos os dias e de uma forma intensa… quando acontecer… estarei em paz.

É bom vivermos com a sensação que fizemos tudo, HOJE, o que poderíamos ter feito!

Tantas pessoas que morrem sem dizer aos filhos que os amavam. “Ah… eles sabem!” NÃO SABEM NÃO!

Ah… pois… amanhã dizemos… amanhã fazemos…

De alguma forma todos nós já passámos momentos em que acreditámos que poderíamos morrer. Eu já tive muitos, este do hospital foi o último! Mas já tive 4 ou 5 acidentes de automóvel que durante os 3 segundos do despiste… aqueles 3 segundos que acreditamos que vamos morrer… senti aquela paz.

Acreditem! É bom sentir aquela paz… A paz do dever cumprido!

Para terminar, quero dizer-vos que afinal vou continuar por aqui mais uns tempos… o médico foi excessivo na sua avaliação… concordo… mais vale prevenir que remediar… tive afinal uma hérnia discal, muito grave, é verdade, o que me levou de facto à sala de operações. No dia 3 das Quarentenas, publiquei um vídeo de uma entrevista que dei na Praça da Alegria, na RTP. Se repararem bem, tinha no pescoço o penso da operação… parecia um padre!

#FiquemEmCasaParaASegundaTemporadaDo

Coronavirus